sábado, 5 de novembro de 2011

Melancholia, Lars von Trier, 2011

Lars von Trier acabou com meu dia hoje. "Melancolia" é MUITO triste, depressivo, down in a hole total. Acabo de sair do cinema com uma sensação de peso e vazio ao mesmo tempo, com um nó na garganta. Por que você não corta logo os pulsos, Lars? Não estou dizendo que o filme é ruim, muito pelo contrário, é de uma perfeição incrível, atuações maravilhosas, esteticamente impecável. Cada detalhe melancolicamente trabalhado.

Os slows oníricos do prólogo remetem descaradamente a Andrei Tarkovsky, mais uma vez. E outra coisa, uma família isolada da sociedade numa casa de campo ressignificando suas relações e cavucando seus medos não me é nada estranho. Von Trier nunca foi TÃO Ingmar Bergman como em "Melancolia". As duas irmãs e o filho pequeno me lembraram muito "O Silêncio".

Sutil e pesado ao mesmo tempo, Lars conseguiu mostrar de forma poética e brutal a (quase) inefável dor da depressão e, como só ele sabe, a inevitabilidade da aceitação do trágico.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Skrítek, Tomás Vorel, 2005


Skritek é absolutamente lindo; o que não é de se admirar porque todo tipo de audiovisual que já vi oriundo da República Tcheca é a arte no seu sentido mais puro e artesanal. O filme é moderno mas mantém uma essência de cinema antigo que dá um ar todo especial à história tragicômica que envolve a família protagonista. As cenas têm menos quadros por segundo e não têm diálogos, assim como no cinema mudo do início do século XX, o que causa uma sensação bem peculiar. Os diálogos são substituídos por interjeições e grunhidos, e os atores são tão expressivos como num filme de comédia de 1910.

Ao mesmo tempo em que a história é bem convincente, um drama familiar típico, há elementos fantásticos que dão um clima totalmente bizarro à trama e, confesso, um pouco de medo a mim que sou sensível a cortes súbitos e seres sobrenaturais. Um duende verde montado em um porco fugitivo de um frigorífico foi uma das cenas que me deixou meio perplexa, pois até então eu achava que o duende era uma alucinação da garotinha, mas depois de todos personagens verem o duende, aparentemente a história é para ser nonsense mesmo.

Apesar da loucura, é um filme para refletir sobre as relações humanas mediadas pelo diálogo, ou melhor, para se perguntar o que é a comunicação, ou a essência humana mais profunda que tenta ser transmitida de alguma maneira para os outros seres. Depois que acabou eu simplesmente me perguntei: pra quê existem palavras?

domingo, 13 de setembro de 2009

The Mirror, Andrei Tarkovsky, 1975


Há tempos estou em uma crise existencial cinematográfica, porque me parece de repente (e desesperadamente) que nenhum filme que eu vejo me mostra algo novo. Estou ansiosa para ver um filme que me surpreenda, que me emocione ou que me faça pensar. Quero ver um filme diferente e não consigo. Isso está me frustrando.

Mas enfim, parei de procurar nas novidades e resolvi ver alguma coisa velha e alternativa que nunca vi. Fuçando um pouco no fórum do Makingoff.org achei esse filme cuja sinopse me remeteu a algo bem subjetivo... e gosto de coisas assim, que exploram o complexo das emoções e sentimentos humanos.

Filmes antigos geralmente me parecem entediantes, mas será que não sou eu que ando muito apressada? Acho que essa vida pós-moderna está acabando comigo. Talvez essa ânsia pelo diferente não me permita relaxar... mas eu estou tentando, de verdade, nem olho muito o relógio ultimamente, nem o tempo do filme que estou assistindo.

"The Mirror" me fez ficar quietinha por mais de uma hora e meia, e foi uma experiência bem relaxante. O filme não tem narrativa linear, o que permite que o espectador não se preocupe em se lembrar do que acabou de ver e apenas aprecie o momento. É um filme bem complexo, não se pode negar. Um filme feito de memórias, literalmente, quase que uma auto-biografia, acredito eu.

"The Mirror" é um filme bucólico e fenomenológico, para se ver despido de qualquer tipo de concepção, apenas se deixando absorver por esse clima estranho e melancólico, que ressuscita no espectador mais sensível aquela coisa morna e ingênua que fica pra trás quando "crescemos".